Ivens Cuiabano Scaff - Kyvaverá


Num momento em que Cuiabá enfrenta tantos problemas, ninguém melhor do que um cuiabano – de nascimento e nome – para cantar as belezas e resgatar a poesia da capital mato-grossense. “Kyvaverá” é o título do livro de poemas que será lançado no próximo dia 30 (sexta-feira) pelo médico, poeta e autor infanto-juvenil Ivens Cuiabano Scaff. É também o nome usado pelos indígenas para identificar o rio que banha a antiga Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
Editado pela Entrelinhas, “Kyvaverá” é uma ode de amor a Cuiabá, ilustrada com obras de arte de Jonas Barros. O livro é dedicado “a todas as pessoas a quem a simples menção do nome Cuiabá evoca vibrações felizes em seus corações”. Segundo o autor, a obra segue a tradição de um dos mais ilustres cuiabanos, o arcebispo dom Aquino Correa, que usou sua terra natal como fonte de inspiração num livro de poemas homônimo. Ivens acredita na força de “Kyvaverá” no momento que a capital atravessa – de evolução, por um lado, mas também de descaracterização.
“É importante ter um livro que reafirme a relação amorosa que a gente tem com a cidade”, afirma o representante da chamada “cuiabania”. Menino-verseiro do Porto, como ele mesmo se define, Ivens é filho do comerciante Hid Alfredo Scaff - descendente de libaneses, cujo nome foi dado ao antigo mercado transformado em Museu do Rio. O poeta conhece os mistérios do rio Cuiabá e do porto como poucos, o que lhe dá o direito de dizer: “Não te amo mais rio Cuiabá”, num dos poemas de “Kyvaverá”, para se emendar ao final: “... até o dia em que, por pensamentos, palavras e obras, eu reaprenda a te amar”.
O espírito brincalhão de Ivens aparece em vários poemas, como em “Aula de catecismo”, dedicado à “Dunga menina” (a musicista e escritora Maria Benedita Deschamps Rodrigues, que morreu em 2002, aos 94 anos). Cenas, detalhes do dia a dia - alegres, tristes, mas sempre poéticos - emergem da poesia de Ivens Scaff, que Marília Beatriz de Figueiredo Leite, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professora adjunta da UFMT, classifica de “um mágico músico do cotidiano” no texto de apresentação de “Kyvaverá”.
Aniversário - Médico atuante há 37 anos e autor de vários livros infanto-juvenis, Ivens diz que seus poemas não têm hora para nascer. “Tem muita poesia que a gente escuta e transcreve. Quem fala, não sei”. Ele chega a parar o carro no meio da rua para anotar os versos que surgem inesperadamente. São tantos que resolveu juntar receituários, guardanapos e outros pedaços de papel onde escrevia os versos para ver “em quantos livros cabiam”. Uma parte se referia a Cuiabá, outra à natureza, havia um terceiro lote de haikais e um quarto de poemas mais pessoais.
“Maria Teresa fez uma espécie de curadoria e assim nasceu Kyvaverá”, conta Ivens, referindo-se à Maria Teresa Carrión Carracedo, editora da Entrelinhas e amiga de longa data. O livro é dividido em quatro partes: Kyvaverá, Os meses, Arredores e Árvres - escrito assim mesmo, do jeito que as crianças falam, diz o autor. Para a editora, este lançamento tem um sabor especial: “Estamos felizes por lançar este livro de poesias deste grande autor. ‘Kyvaverá’ nasce como um canto de amor e de dor a Cuiabá, com uma poesia que nos transpassa, emociona... e que acrescenta valor à literatura e à cultura mato-grossense e brasileira”.
Ivens também não esconde a emoção diante do próximo lançamento. “Os outros livros lançados eram de ficção. A poesia desnuda o autor: o poeta está nu ou então está vestido em sua melhor fantasia”, comenta. O clima de excitação tem mais um motivo: o autor vai comemorar seu 60º aniversário na noite do lançamento, que será realizado no Jardim do Sesc Arsenal, sob a copa das mangueiras que o aniversariante tanto ama. “O local está se firmando como novo point literário de Cuiabá”, diz o poeta, que promete um grande encontro cuiabano. (Entrelinhas)
Outras obras de Ivens Cuiabano Scaff:- “A nova poesia de Mato Grosso” – antologia de poesia organizada por Maria Teresa Carrión Carracedo e Dielcio Moreira (Cia. Editora e Impressora Matogrossense, 1980)
- “Mil mangueiras” (Edição do autor, 1988)
- “Mamãe, sonhei que era um menino de rua” (Tempo Presente, 1996)
- “Uma maneira simples de voar” (Tempo Presente, 1997)
- “O papagaio besteirento e a velha cabulosa” (Tempo Presente, 1999)
- “Fragmentos da alma mato-grossense”, antologia organizada por Maria Teresa Carrión Carracedo (Entrelinhas, 2003)
- “Uma maneira simples de voar” (Entrelinhas, 2006)
- “O menino órfão e o menino rei” (Entrelinhas, 2008)

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